A realidade do futebol em Portugal é bem mais amarga do que quase todos os seus agentes - dirigentes, treinadores e jogadores - e a comunicação social tem propalado.
A penúltima jornada da Liga Europa constituiu um exemplo. Três empates, apenas um golo, e Estoril e Vitória de Guimarães fora da prova, juntando-se ao já eliminado Paços de Ferreira.
Se acrescentarmos a esta triste realidade ao que está a acontecer na Liga dos Campeões com o FC Porto e o Benfica, constata-se que esta será a pior época dos últimos anos. Os números são elucidativos: nos 25 jogos das cinco equipas registaram-se 4 vitórias, 10 empates e 11 derrotas, com o saldo negativo de golos (20-28)
Sem alguns jogadores de categoria que actuam além-fronteiras e a utilização massiva de estrangeiros, alguns apenas com o objectivo assegurar um lugar noutro país do continente com melhores remunerações, os clubes estão a a fastar-se da elite europeia.
Três derrotas (FC Porto na Liga dos Campeões; Guimarães e Paços de Ferreira na Liga Europa) e dois empates (Benfica (LC); Estoril (LE). Este o balanço dos portugueses na terceira jornada da fase de grupos das provas da UEFA.
Treze pontos foram desperdiçados e alguns milhares de euros ficaram na posse dos adversários.
Chuva, arbitragens, expulsões e penáltis não assinalados serviram para desculpar esta semana negra do futebol português.
Quase todos os responsáveis dos clubes, no entanto, não acreditam que a continuidade nas duas provas esteja em risco, e nem sequer admitem mudar de rumo. Se o Governo também pensa o mesmo da solução da crise através do aumento de impostos, não há razões para preocupações.
Menos pontos dos clubes e inferiores rendimentos dos cidadãos não comprometerão o futuro, segundo os teóricos.
Portugal está no melhor caminho para o descalabro em todos os sectores do País.
As críticas que se teceram quando se criou a Taça da Liga estão na lembrança de todos, aliás como aconteceu com a Liga Europa, antes de a UEFA ter alterado o modelo de disputa, com grupos a duas voltas. Em Portugal, para que a prova tivesse mais prestígio impunha-se também que permitisse acesso à actual segunda prova europeia. Assim se explica o desinteresse dos principais clubes, em especial aqueles que nos últimos têm conseguido mais espaço nas competições internacionais.
Vítor Pereira não alterou agora o discurso dos dragões por acaso, já que apenas lhes resta uma prova, em termos matemáticos, possível de ganhar, afinal a mais importante do panorama português. Só que os êxitos por vezes considerados "menores" não servem para «tapar buracos», e o
FC Porto não teve sorte nem talento para levar de vencida o Sporting de Braga na final de Coimbra.
O técnico pode alegar erros de arbitragem - apenas recorre a esse expediente nas derrotas - e argumentar com a pressão exercida sobre os minhotos durante grande parte do jogo.
Nem sempre os seus jogadores encontraram antídoto para a clarividência defensiva e irreverência atacante dos bracarenses. E, em circunstâncias normais, 45 minutos chegariam para colmatar a falta de um elemento e a desvantagem do golo.
De elogiar não se esquecer de dar os parabéns ao Braga, vencedor pela primeira vez depois do trabalho desenvolvido pelo presidente António Salvador, e simultaneamente de José Pereiro, a quem já apelidavam do Raymond Poulidor do futebol português, comparando a sua carreira à do ciclista francês, a viver sempre na sombra de Eddy Merckx e Jacques Anquetil.
Hulk era a imagem da desolação por duas razões. Teve uma exibição alguns furos abaixo do habitual e o FC Porto deixou fugir o apuramento na Liga dos Campeões e terá de contentar-se em disputar a Liga Europa, prova que conquistou na temporada passada.
Vítor Pereira transmitiu um estado de espírito oposto quando afirmou: «Estou orgulhoso do trabalho que fizemos. Tentámos de tudo para vencer. Tivemos oportunidades mais do que suficientes para vencer. O Zenit foi defendendo como pôde. Saímos tristes, mas orgulhosos.»
O treinador dos dragões pode ter razão nos lances de golo desperdiçados, mas em vez de manifestar orgulho deve mostrar-se preocupado. A eficácia atacante de tempos recentes desapareceu, tal como a serenidade nunca foi sensação transmitida pelos jogadores.
Quem reconhece os erros cometidos em partidas anteriores - «o jogo em casa com o Apoel foi fundamental. Uma equipa que tem o estilo de jogo com muitos homens atrás e que é difícil de contrariar. Foi com os cipriotas que ficou tudo decidido» -, não pode dizer agora não ter havido falhas frente aos cautelosos russos do Zenit, treinados por um italiano, logo adepto da escola da segurança defensiva para atingir os objectivos.
«Agora temos de agarrar a oportunidade da Liga Europa», concluiu Vítor Pereira.
Não é a mesma coisa!
Como previramos há dias, a presença das quatro equipas no play-off da Liga Europa foi decepcionante. Pelo caminho ficaram duas com derrotas contundentes para quem pensava que poderia alterar a imagem de inferioridade transmitida dias antes.
Se alguém tinha esperança que o Guimarães poderia superar os dois golos de desvantagem trazidos de Vicente Calderón, cedo teve de render-se à realidade. O Atlético de Madrid marcou logo no primeiro minuto e estava decidida a eliminatória. Manuel Machado e os jogadores vimaranenses ficaram siderados e a equipa nunca mais se encontrou. Pelo contrário, afundou-se de maneira a sofrer quatro golos.
O Nacional confirmou em Inglaterra que o empate a zero na Madeira não oferecia grande margem de manobra. O Birmingham, sem dificuldade, foi aumentando a diferença até aos três tentos.
Leonardo Jardim foi o único técnico que apresentou argumentos para contrariar o favoritismo dos suíços do Young Boys depois do empate a zero em Braga. Conseguiu-o através dos golos marcados fora (2-2), mas os bracarenses continuaram a demonstrar a raça que os conduziu, na época passada, à portuguesa (FC Porto) final da prova em Dublin.
O Sporting continua sem encontraro rumo certo, situação complicada para Domingos Paciência, que já viveu momentos felizes na curta carreira de treinador. Os leões acompanham o Braga na fase de grupos, mas não sentiram menos problemas do que há um ano perante os mesmos modestos adversários dinamarqueses.
Começa a desenhar-se a queda no ranking europeu, pondo em causa o brilhante comportamento de 2010/2011.
O Sporting perdeu a «final» que disputou em Setúbal, mas o Vitória não recebeu a taça, e Manuel Fernandes ainda terá de sofrer muito se chegar ao Jamor.
A equipa de Alvalade, no entanto, está bem encaminhada, pois tem muitas «finais» até ao termo da temporada, a avaliar por mais este desaire. Três correspondem à participação na Taça da Liga; tem direito a pelo menos uma na Liga Europa, terminada a fase de grupos; e sobram-lhe ainda mais 17 no campeonato.
A 13 pontos do topo da prova liderada pelo FC Porto e com a vantagem de 14 sobre o Portimonense (penúltimo), cada encontro será mais uma «final» e, em caso de muitas distracções - isto é, falhanços na defesa, sem bússola na zona intermédia e ineficácia no ataque - todos os jogos serão decisivos, não para atacar o título, mas para fugir da linha de água.
Situação que preocupa de mais os adeptos e, pelos vistos, de menos os responsáveis. O presidente já deverá ter a agenda cheia com visitas, jantares e discursos nos Núcleos em Portugal e no estrangeiro, além do convite do Partizan de Belgrado para participar nas comemorações do seu 65.º aniversário e assinalar o embate com o Sporting na primeira edição da Taça dos Campeões Europeus (55/56), quando o clube português tinha prestígio para merecer um convite na estreia da prova.
O «competente» Costinha ficará a dirigir o futebol, mas também não deverá ter muitas preocupações, já que quem não tem dinheiro não pode ter vícios. O treinador Paulo Sérgio só voltará às «finais», novamente em Setúbal, no dia 20, pois o compromisso de quarta-feira com o Levski de Sófia será apenas um «treino» da Liga Europa.
Quem te conheceu e ao que chegaste, Sporting!
Holanda e Brasil cumpriram a «obrigação» e passaram com relativa facilidade aos quartos-de-final e, felizmente, não se repetiram as vertigens que afectaram dois árbitros nos anteriores dois jogos dos «oitavos».
A Eslováquia mostrou menos inspiração que na fase de grupos. Teve pela frente uma equipa reforçada com o regresso Arjen Robben, a desestabilizar a defesa dos europeus. Marcou o primeiro golo e assistiu para o segundo de Sneijder, dispensa do Real Madrid que constribuiu decisivamente para a felicidade de José Mourinho no Inter.
Dunga procedeu a alterações que concederam maior velocidade à habitual manobra e abalou a solidez defensiva e certo expediente atacante revelados pelos chilenos em jogos anteriores. Além disso, os toques de magia de alguns canarinhos estabeleceram a diferença, através dos golos de Juan (defesa), Fabiano e Robinho, este considerado o melhor jogador em campo.
Selecções que na primeira fase da prova revelaram sensíveis progressos, estão agora a perder o elã. Começa a duvidar-se da hipótese de se registarem surpresas entre os finalistas.
Acabou o sonho europeu do Benfica na presente época. O Liverpool conseguiu surpreender a equipa que em Portugal melhor futebol tem praticado e continua a ser o mais credível candidato ao título. Prejuízo para os cofres da Luz e para o ranking europeu do país.
As razões não residiram no cansaço que o treinador da Luz andava a «vender» há dias, por ter defrontado a Naval 24 horas depois do último compromisso oficial dos ingleses. O confronto com a equipa de Augusto Inácio não foi tão desgastante como se pode depreender do resultado, e se a fadiga está a apoderar-se dos jogadores terá a ver com a forma como os responsáveis geriram a preparação desde o início da temporada.
O colapso em Anfield Road deve-se essencialmente às diferentes leituras e correspondente procura de soluções que Jorge Jesus e Rafael Benitez fizeram do encontro da primeira «mão».
A entourage benfiquista, dos adeptos a pessoas mais responsáveis, incluindo certa comunicação social, subestimaram diversos aspectos importantes nesta eliminatória:
1 - Um resultado de 2-1 é um dos piores que pode acontecer em casa, pois basta um golo do adversário para assegurar o apuramento;
2 - A debilidade demonstrada pela equipa do Liverpool no campeonato interno (sexto) não faz dela um adversário menor - resultou da venda de importantes jogadores e de uma política de contenção nas aquisições -, mas ainda possui activos valiosos;
3 - O treinador espanhol Rafa Benitez, de valioso palmarés, é um conhecedor profundo do mundo do futebol e por diversas vezes demonstrou invulgares dotes de estratégia - que o diga José Mourinho!!! - perante equipas bem mais valiosas que o Benfica;
4 - Jorge de Jesus, desta feita, agiu mais com os sentimentos do que com a cabeça e terá subestimado o ambiente em Anfield Road, a real capacidade do contra-ataque adversário, com um futebolista chamado Fernando Torres, e a matreirice do homem que se sentou no banco do adversário.
Demasiados «esquecimentos» em jogos com equipas de apreciável traquejo europeu.
David Beckham, de 34 anos, um predestinado para o sucesso através do futebol, teve o seu minuto de azar. Uma lesão no tendão de Aquiles no último encontro do Milan na Liga italiana levou-o para uma sala de operações na Finlândia.
O ex-jogador do Manchester United, vinculado aos americanos do Los Angeles Galaxy, tudo fez para integrar a selecção inglesa no Mundial da África do Sul.
Perante a lógica exigência do seleccionador Fabio Capello no sentido de Beckham jogar num clube de nível mundial, vestia agora pela segunda vez a camisola do Milan, a título de empréstimo dos norte-americanos, para apurar a forma e justificar a convocatória.
Muitas conversações e compensações financeiras permitiram o acordo entre os dois clubes, por a paragem dos campeonatos não coincidir em Itália e nos Estados Unidos, e tudo se preparava para se cumprir o desejo do futebolista disputar o seu quarto Mundial.
Mas a pouco menos de 90 dias do início da prova aconteceu o imprevisto. A vida tem frequentes percalços e em cada dia que passa muitas são as vítimas.
Este foi notícia porque aconteceu a uma figura pública e idolatrada por milhões de adeptos do futebol em todo o mundo.
A perda de três pontos determinou, para muitos especialistas, que o Sporting disse definitivamente adeus ao título. Mas alguém pensaria que com 12 pontos de atraso em relação ao Braga e ao Benfica e seis a menos que o FC Porto - a matemática é uma ciência exacta, mas as exibições do Sporting foram quase sempre «inexactas» - que a equipa de Alvalade teria hipóteses concretas de discutir os primeiros lugares e, muito menos, o título? Tornou-se necessária a perda de mais três pontos para se aceitar um sinal há muito evidente. Carlos Carvalhal ainda não retirou dividendos das novas aquisições. A «ventania» do ex-bracarense João Pereira produzida no flanco direito raramente fez tremer a defesa minhota e Sinama-Pongolle pouco tempo teve para justificar o avultado investimento. O futuro imediato do Sporting, portanto, ainda não ultrapassou a fase da incógnita.
Domingos Paciência colocou algumas reticências à exibição dos seus pupilos. Os bracarenses ganharam com um golo feliz, conseguiram libertar-se da pressão adversária da fase inicial da partida, e os melhores momentos estiveram abaixo de outros jogos.
Acidental ou consequências de uma época brilhante mas exigente é o que se verá nas próximas semanas. Mais uma jornada na liderança é a realidade, credora de indiscutíveis elogios.
Os sportinguistas lamentam-se do afastamento da Liga do Campeões, na sequência de resultados de sentido idêntico ao que permitiu o apuramento frente ao Twente.
Na pré-eliminatória empataram em Alvalade a zero e na Holanda a um golo. Valeu o tento marcado fora num momento de extrema felicidade para os leões, graças à atitude temerária do guarda-redes Rui Patrício.
No play-off repetiram o resultado em Lisboa a dois golos e no terreno da Fiorentina a um. De novo os tentos marcados fora a decidirem a eliminatória. Desta feita, porém, contra o Sporting.
Certamente que os responsáveis sportinguistas, dirigentes ou técnicos, não tinham a veleidade de vencer a prova sem ganhar um jogo...
A dor de Paulo Bento, portanto, não existe pelo Sporting ter sido eliminado, mas por não ter - ou não conseguir - uma equipa que saiba marcar mais tentos que os adversários. Depois assiste-se à surpresa do Apoel de Chipre, onde alinham dois portugueses - Nuno Morais e Hélio Pinto - continuarem entre a elite europeia.
Será altura do presidente tomar consciência que não se fazem «omeletas sem ovos», como dizia o saudoso Otto Glória.
A Scolari não se deve atribuir a total responsabilidade pela frustração que neste momento invade o futebol português. Tão pouco os jogadores serão os únicos culpados pela despedida, para alguns prematura, da selecção do Europeu 2008. Outros factores, que tem a ver com a maneira de ser e estar na vida dos portugueses, ajudaram a criar um ambiente de euforia nunca suportado pelas prestações da equipa nos últimos meses, ou melhor, desde o início da fase de apuramento.
A campanha que permitiu a presença na Suíça foi pobre, sem chama e terminou com um forcing que apenas permitiu o segundo lugar de acesso. As vitórias nos dois primeiros jogos da fase final não se fundamentaram em exibições convincentes e a derrota com a Suíça constitui uma mancha no palmarés de Portugal, pois em campo estiveram jogadores que não desmentem ser assediados por equipas estrangeiras de alto nível. Por fim, Cristiano Ronaldo foi, também perante a Alemanha, uma sombra do que aconteceu ao longo da época no Manchester United, como era de admitir.
Tudo isto foi evidente, mas na hora de analisar as perspectivas para o confronto com os alemães, nada foi equacionado pelos novos comentaristas (alguns jornalistas) que pululam pelas televisões e rádio, preferindo pautar as suas palavras por um patriotismo balofo e embalar numa superioridade portuguesa quase ofensiva em relação aos adversários.
Agora não digam que Scolari fez mal em não adiar o anúncio do contrato com o Chelsea, que Cristiano Ronaldo nunca deveria alimentar o diferendo Manchester United/Real Madrid, entre outros casos. Continuem a atribuir ao árbitro as culpas do terceiro golo e digam apenas que o guarda-redes Ricardo ficou "mal na fotografia". Pergunta-se: em quantas, desde o Sporting à selecção.
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